Nos últimos anos, as operadoras de shopping centers vinham
se antecipando ao movimento do e-commerce no país, reforçando a oferta de
serviços e opções de entretenimento, além de buscarem alternativas à perda das
receitas com estacionamento.
“O Brasil até largou na frente nesse quesito… O impacto do
e-commerce vai ser sentido, mas em menor grau que nos Estados Unidos”, afirmou
à Reuters o analista do BTG Pactual, Gustavo Cambauva.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Shopping
Centers (Abrasce), Glauco Humai, os shoppings no Brasil são mais que centro de
compras e não necessariamente precisam competir com o comércio eletrônico.
Em vez disso, ele aposta que o setor pode assumir papel
central no desenvolvimento do ecommerce no país, que ainda esbarra em questões
de infraestrutura logística. “O que torna nossos shoppings uma joia é a
localização… Eles seriam centros de distribuição perfeitos”, disse Humai.
Uma das consequências da mudança de hábitos dos consumidores
em direção a compras online e da proliferação de aplicativos de transporte como
Uber é o recuo na atividade dos estacionamentos dos shoppings, uma das fontes
de receitas dos empreendimentos.
A Multiplan apurou crescimento de 12 por cento na receita de
estacionamento de seus shoppings em 2015, conta que recuou para queda de 0,5
por cento no ano passado. Na rival Iguatemi, a linha passou de expansão de 18
por cento para alta de 4 por cento no mesmo período. Já a BRMalls viu a
expansão de 11 por cento passar para apenas 0,6 por cento.
“Na pior das hipóteses convertemos parte dos nossos 570
shoppings em centros de distribuição”, comentou o presidente da Abrasce se
referindo ao número de empreendimentos atuais no Brasil.
A estratégia de olhar os shoppings como centrais de
distribuição de produtos espelha a de grandes redes de varejo como a Via
Varejo, que está construindo mini galpões em lojas físicas para acelerar os
prazos de entrega de mercadorias compradas pela Internet. Isso ocorre num
momento em que o setor se esforça para integrar os canais online e offline,
enquanto a concorrência se acirra com uma atuação possivelmente mais intensa da
gigante norte-americana Amazon no mercado brasileiro.
No início do ano, a Reuters noticiou que a Amazon estava se
reunindo com fornecedores locais de itens eletrônicos, perfumaria e outros
produtos, além de negociar a locação de um galpão em Cajamar (SP) e um acordo
com a companhia aérea Azul para entrega de mercadorias.
“Se vem uma Amazon ou um Alibaba podemos negociar que nossos
shoppings sejam os centros de distribuição para eles”, afirmou Humai.
Uma das primeiras administradoras de shopping centers a se
aventurar no ecommerce foi a BRMalls, que há cerca de três anos introduziu um
projeto piloto em seu Shopping Metrô Santa Cruz, em São Paulo, para entregas de
restaurantes da praça de alimentação.
“Montamos uma central de entregas que fazia a ponte entre
gerador de pedidos e as lojas de alimentação… O negócio começou a dar muito
certo e percebemos que tinha potencial”, contou o diretor de operações da
BRMalls, Vicente Avellar.
Em 14 de maio, a companhia anunciou investimento não
majoritário na plataforma aberta Delivery Center para desenvolver o chamado
“ship from mall”, um modelo de entregas que usará shoppings como centros de
distribuição.
O plano é que os 40 empreendimentos da BRMalls estejam
integrados à plataforma até o fim de 2019. A parceria não é exclusiva e o
projeto foi implementado no início de julho no Shopping Tijuca, no Rio de
Janeiro, inicialmente com alimentação. Além disso, outros dois shoppings
independentes e um prédio comercial convertido pela Delivery Center estão em
operação.
“Só nos primeiros três meses de operação conseguimos um
incremento de 15 por cento das vendas da praça de alimentação”, disse o
presidente da Delivery Center, Andreas Blazoudakis, que também é cofundador da
empresa de aplicativos para dispositivos móveis Movile.
De acordo com Blazoudakis, além da BRMalls, a Delivery
Center ainda negocia parcerias com outras redes de shopping centers. “Cabem
mais duas ou três como acionistas”, afirmou o executivo.
Ainda no setor, outra empresa interessada em ingressar no ecommerce
é a Multiplan, que planeja lançar até o fim deste ano uma versão experimental
de um canal de vendas online, o MultiShopping.
“Vai começar no BarraShopping (no Rio de Janeiro) e depois
vamos adicionando novos shoppings ao longo do tempo…A ideia é levar o shopping
para casa do cliente”, explicou o diretor vice-presidente financeiro e de
relações com investidores da Multiplan, Armando d’Almeida Neto.
Também procurada pela Reuters, a Iguatemi disse que “está
sempre atenta a novas oportunidades de negócio”, mas não informou se estava
desenvolvendo ou estudando iniciativas para o comércio eletrônico.
Fonte: Gabriela Mello, da Reuters
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