Conhecida como solvente universal, a água é fundamental na
preparação do concreto. A correta dosagem do elemento interfere diretamente nas
reações químicas da mistura e, consequentemente, nas características técnicas
de resistência e durabilidade das estruturas. Neste texto, que faz parte da
série de reportagens sobre Traço de Concreto, conheceremos a importância do
controle de água.
De acordo com José Freitas Júnior, docente da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), a presença do líquido é indispensável, entre outras
razões, porque o cimento consome aproximadamente 19% de seu peso em água para
formar os cristais sólidos que promovem a resistência mecânica do concreto.
O
líquido também atua na trabalhabilidade do concreto, ou seja, colabora para que
a mistura assuma aspecto plástico suficiente para ser transportada e aplicada
nas fôrmas. Mas é preciso fazer o controle de água para não ter problemas com o
concreto.
Quantidade ideal de água na preparação do concreto
Para que cumpra suas funções, a água deve ser adicionada em
quantidades adequadas, dependendo de cada caso. “Costumo exemplificar o fator
água/cimento (a/c) relacionando com o preparo de suco em pó. Quando temos mais
água do que o recomendado, o resultado será um líquido colorido e adocicado,
mas não o suco propriamente dito”, explica o professor Marcos Valin Jr, docente
do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) – Campus Cuiabá.
A precisão dos cálculos para determinar a quantidade ideal
de água só é possível após o estudo de dosagem, que leva em consideração local
e tipo de aplicação, requisitos de projeto, qualidade do cimento e agregados
disponíveis, entre outros fatores. “Geralmente, o consumo varia de 160 a 250
litros para cada m³ de concreto”, afirma Valin. Os parâmetros mínimos da
relação a/c são estabelecidos pela ABNT NBR 12655 – Concreto de cimento
Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação – Procedimento.
Segundo o professor do IFMT, muitas vezes, o estudo de
controle de água não recebe a atenção necessária devido aos cronogramas
apertados. A análise deve constar da fase de planejamento da obra. Sua execução
e princípios básicos precisam ser rigorosamente seguidos. “Em um país de
proporções continentais como o Brasil, cada construção apresenta
particularidades que necessitam ser consideradas. Por isso, é recomendado
abolir as tabelas de traço geral”, recomenda.
Problemas da falta de controle de água
A ausência de controle de água é uma das principais causas
de fissuras no concreto, que surgem devido à retração que ocorre durante o
endurecimento da estrutura. “O excesso de água é um catalisador da retração,
mas não é a única e nem a mais importante causa. A falta de cura (procedimentos
de proteção para minimizar a perda de água) e a exposição excessiva ao sol ou
calor também influenciam o fenômeno”, diz Freitas. Outro problema causado por
misturas com água em demasia é o concreto com alto índice de vazios.
Já a falta de água dificulta os processos de lançamento e
adensamento, provocando falhas de concretagem. “Nesses casos, além dos altos
custos para os reparos, há o comprometimento da segurança da estrutura”,
adverte Valin. Na etapa de preparação da massa, em hipótese alguma deve ser
adicionada água sem o devido controle. “O processo de produção precisa
assegurar que a quantidade de água seja exatamente a especificada, nem mais e
nem menos”, complementa Freitas.
Equipamentos
Existem diversos equipamentos que auxiliam no controle de
água adicionada na mistura. Em pequenas obras, em que o concreto é produzido
manualmente, um simples balde graduado ou de volume conhecido pode ser
utilizado. “Entretanto, essa alternativa não é indicada para execução de peças
estruturais”, recomenda Valin. Opção que permite maior controle na preparação
do concreto misturado na obra é a proveta graduada. “O equipamento é
normalmente utilizado quando a massa é produzida na betoneira e os agregados
são adicionados através de padiolas”, completa.
Os materiais de maior precisão no controle são os hidrômetros,
que, geralmente, são instalados nas centrais dosadoras e nos caminhões
betoneira. Outra possibilidade, também de resultado bastante exato, é a
utilização de balança para medição de cada elemento adicionado ao traço de
concreto.
Independentemente do equipamento, é imprescindível a
calibração prévia e que existam planos de manutenção dos dispositivos para
fazer um controle de água correto. “Por exemplo, o balde pode amassar, os
marcadores da proveta ficarem apagados ou existirem erros na balança e hidrômetros”,
detalha Valin, ressaltando que nunca deve ser adicionada água diretamente da
mangueira, pois não há como controlar a quantidade.
A curva de Abrams
“Desenvolvido por Duff Abrams na primeira metade do século
XX, o gráfico é importante por relacionar (de forma inversa, seguindo uma
tendência parabólica) a resistência mecânica com a relação a/c ou com a relação
do peso de água dividido pelo peso de cimento utilizado no concreto”, ensina
Freitas. Através de um conjunto de dados obtidos nos estudos experimentais de
dosagem, a curva de Abrams permite indicar como o aumento do fator a/c tem como
consequência natural a diminuição da resistência da estrutura.
O cientista Duff Abrams define sua curva dizendo: “Dentro do
campo dos concretos plásticos, a resistência aos esforços mecânicos, bem como
as demais propriedades mecânicas do concreto endurecido, varia na relação
inversa da relação água/cimento”.
Controle da cura
A hidratação do cimento continua por um longo período após a preparação do concreto, e é preciso que as condições ambientais favoreçam essas reações químicas. “A água de amassamento (da mistura) é essencial no processo de hidratação. Por isso, é necessário que após a pega (endurecimento) não ocorra a secagem do concreto”, fala Valin.
Existem variados métodos para manter a umidade, e cada
situação demanda uma solução diferente.
Por exemplo, para que produtos
pré-moldados ganhem resistência mais rapidamente, o processo indicado é a cura
a vapor, que consiste no aquecimento da peça em ambiente saturado de vapor.
Já para pavimentos expostos ao sol, pode-se espalhar
serragem ou sacos de ráfia, mantendo a superfície sempre úmida durante alguns
dias – entre sete e 14 – conforme a necessidade. “Em pisos que não receberão
nenhum tipo de tráfego, a alternativa é utilizar agentes de cura à base de
parafina ou óleo, materiais que são mais leves do que a água e evaporam
lentamente, prendendo a água dentro do concreto abaixo. Está técnica é
interessante por ser possível aplicá-la sobre o concreto ainda fresco”, detalha
Freitas.
Quando o ambiente é protegido do sol, após 24 ou 48 horas, a
superfície do concreto pode ser saturada em água e até coberta por plástico
impermeável. Atualmente, algumas obras estão elevando a resistência do concreto
para dispensar a realização da cura. “Essa é uma prática desesperada para
contornar a falta de planejamento”, adverte Valin.
Qualidade da água
Para ser empregada no concreto, a água deve ser potável. “A
presença de matéria orgânica prejudica a durabilidade da estrutura ou resulta
no aparecimento de manchas. Outra questão é a existência de sal (NaCl), que é
bastante prejudicial para as armaduras de aço”, ressalta Freitas. De maneira
geral, a água de abastecimento público atende aos critérios necessários. “Essa
questão é tão importante que existe uma norma exclusiva para tratar do assunto,
a ABNT NBR 15900 – Água para amassamento do concreto”, finaliza Valin.
Fonte: Mapa da Obra
Fonte: Mapa da Obra
Nenhum comentário:
Postar um comentário