A
cidade de Kiruna foi fundada em 1900 pela mineradora estatal
Luossavaara-Kiirunavaara AB, ao norte do Círculo Polar Ártico. A população
sempre viveu em função da mina nas redondezas, que produz o minério de ferro
mais puro do mundo. Mas, em 2004 a LKAB avisou à prefeitura que a extração de
ferro teria continuar embaixo da cidade – e, com isso, o chão ia afundar.
Foi
nessa época que Kiruna abriu uma competição entre empresas de arquitetura. A
prefeitura queria saber qual delas apresentaria a melhor solução para um
projeto nunca feito antes: mudar uma cidade inteira de lugar. A White
Architects venceu em 2012 e abraçou o projeto, que vai, no mínimo, até 2040.
A
etapa inicial é mover o “centro” de Kiruna que, na realidade, fica na parte
oeste da cidade. O lugar onde a região fica agora vai ter afundado
completamente até 2050 – segundo a empresa, já dá para ver alguns buracos se
formando e a estação de trem já precisou ser fechada. O novo centro vai ser
reinstalado a 3,2 quilômetros do extremo leste da cidade, o mais distante
possível da mina de ferro.
Algumas
das construções da cidade vão ser erguidas por guindastes e transportadas peça
por peça. É o caso da Igreja de Kiruna, inaugurada em 1912 e eleita a
construção mais bonita de toda a Suécia. O relógio da cidade também vai ser
rebocado da forma como está para o outro lado do município.
Esse
esforço todo é uma tentativa de manter a identidade da cidade, apesar da
mudança radical. A prefeitura contratou até mesmo uma antropóloga social, que
funciona como mediadora entre a população e os arquitetos e engenheiros. O
objetivo é fazer a transformação urbana mais democrática do mundo.
É
claro que nem todos os prédios vão ser realocados da forma como estão. A LKBA,
que está financiando toda a mudança, oferece duas opções aos moradores: compram
a casa em que moram pelo valor de mercado + 25% ou oferecem uma casa de mesmo valor
na área expandida na cidade. Todo esse custo só consegue ser bancado porque a
LKBA é a maior exportadora de ferro da Europa – ou seja, é mais barato mover
toda essa gente do que fechar a mina.
Os
arquitetos da nova Kiruna não querem apenas replicar a cidade em uma região
segura, mas melhorar a forma como ela é distribuída. Kiruna é hoje o segundo
maior município do mundo em área: são 21 mil km2, onde vivem só 20 mil pessoas.
Isso é o equivalente a 122 estádios do Maracanã para cada habitante. A equipe
quer tornar a cidade bem mais densa, além de aproveitar o espaço extra para
aumentar o contato dos moradores com a natureza, misturando áreas rurais e de
floresta ao centro urbano.
Mesmo
depois de completar a primeira parte do projeto, a prefeitura espera que a
forma final de Kiruna só fique pronta no fim do século. A planta futura da
cidade, bem mais compacta, tem novos setores a norte, sul e leste, a uma
distância bem grande da atividade da mina. Se tudo correr como planejado,
Kiruna pode virar uma atração de turismo arquitetônico – quer dizer, para quem
se aventurar a enfrentar um mês e meio em que o Sol não se põe no verão e
outros 30 dias em que ele não nasce no inverno.
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