Região assiste a novo inchaço de ocupações, perto de onde Prefeitura vai retirar 40 mil pessoas, para obra de túnel
A poucos metros de prédios neoclássicos gigantescos em construção à beira da Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul de São Paulo, o trabalho daqueles cinco homens de bermuda e camiseta regata parece até de formiguinha. Eles carregam tijolos, puxam tábuas, se equilibram em cima de muros, pulam pequenos vãos. Enquanto os carros passam impacientes às margens do Córrego Água Espraiada e os espigões sobem da noite para o dia ao seu redor, os homens constroem lentamente suas casas de reboco aparente, sem nenhuma pressa.
Eles não são os únicos, diga-se. No trecho da avenida que corta os bairros do Brooklin Novo, Brooklin e Campo Belo é possível flagrar a construção de casas em pelo menos quatro terrenos, aumentando o número de moradias que se espremem nas pequenas favelas já existentes ao longo da via. Cenas de homens levando tábuas e tijolos podem ser vistas a apenas um quilômetro do ponto na Roberto Marinho onde a Prefeitura promete fazer a maior remoção de favelas da história da capital paulista - 40 mil moradores serão retirados para a construção de um túnel de 2,8 quilômetros que vai chegar à Rodovia dos Imigrantes. Apesar da grandiosidade do projeto, que já está em curso, as favelas ao longo da avenida continuam a inchar, sem a interferência do poder público municipal.
As novas construções irregulares na Roberto Marinho ficam dentro do perímetro da Operação Urbana Água Espraiada, que - pelo menos no papel - contempla a futura urbanização das favelas da área. "O pessoal vai tendo filhos, os filhos saem de casa, e aí precisam morar sozinhos, né?", diz Antônio, um marceneiro que há 12 anos mora na avenida.
A frase resume em poucas palavras a situação habitacional da capital. De acordo com levantamento feito com base no banco de dados da Secretaria Municipal da Habitação (Sehab), o número de favelas caiu no ano passado pela primeira vez na história. Os motivos passam pela falta de novos terrenos para a criação de ocupações e pela desapropriação de favelas - em 2008 eram 1.641 e atualmente são 1.636. Ainda assim, a população favelada continua a crescer em um ritmo quase duas vezes superior à da média paulistana. Hoje, segundo a Sehab, há cerca de 1,3 milhão de pessoas em favelas, número que cresce 3,7% ao ano.
"Eu já morei na Arábia (favela em Parada de Taipas, zona oeste). Aí desapropriaram lá e meu marido conseguiu uns trabalhos perto da zona sul. Então, compramos esta casa", diz a vendedora de doces Maria dos Santos Penteado, que há menos de três meses mora em uma favela da Roberto Marinho. "A gente não tem folga no orçamento para alugar em outro lugar melhor, e mesmo para comprar fora de favela. Às vezes (o dinheiro), não é suficiente nem para as despesas."
Segundo moradores do Campo Belo, também cresce o número de pessoas que estão se instalando gradativamente no interior das muretas centrais de proteção da avenida, coladas ao córrego. As ocupações contrastam com o número de espigões de alto padrão que surgiram na área - nos últimos sete anos, os bairros às margens do córrego valorizaram até 80%. E o otimismo do mercado imobiliário não parece ter fim. De acordo com o Secovi (sindicato da habitação), o complexo de túnel vai garantir melhorias urbanísticas e ambientais, capazes de criar mais um eixo de desenvolvimento para a cidade.
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A poucos metros de prédios neoclássicos gigantescos em construção à beira da Avenida Jornalista Roberto Marinho, na zona sul de São Paulo, o trabalho daqueles cinco homens de bermuda e camiseta regata parece até de formiguinha. Eles carregam tijolos, puxam tábuas, se equilibram em cima de muros, pulam pequenos vãos. Enquanto os carros passam impacientes às margens do Córrego Água Espraiada e os espigões sobem da noite para o dia ao seu redor, os homens constroem lentamente suas casas de reboco aparente, sem nenhuma pressa.
Eles não são os únicos, diga-se. No trecho da avenida que corta os bairros do Brooklin Novo, Brooklin e Campo Belo é possível flagrar a construção de casas em pelo menos quatro terrenos, aumentando o número de moradias que se espremem nas pequenas favelas já existentes ao longo da via. Cenas de homens levando tábuas e tijolos podem ser vistas a apenas um quilômetro do ponto na Roberto Marinho onde a Prefeitura promete fazer a maior remoção de favelas da história da capital paulista - 40 mil moradores serão retirados para a construção de um túnel de 2,8 quilômetros que vai chegar à Rodovia dos Imigrantes. Apesar da grandiosidade do projeto, que já está em curso, as favelas ao longo da avenida continuam a inchar, sem a interferência do poder público municipal.
As novas construções irregulares na Roberto Marinho ficam dentro do perímetro da Operação Urbana Água Espraiada, que - pelo menos no papel - contempla a futura urbanização das favelas da área. "O pessoal vai tendo filhos, os filhos saem de casa, e aí precisam morar sozinhos, né?", diz Antônio, um marceneiro que há 12 anos mora na avenida.
A frase resume em poucas palavras a situação habitacional da capital. De acordo com levantamento feito com base no banco de dados da Secretaria Municipal da Habitação (Sehab), o número de favelas caiu no ano passado pela primeira vez na história. Os motivos passam pela falta de novos terrenos para a criação de ocupações e pela desapropriação de favelas - em 2008 eram 1.641 e atualmente são 1.636. Ainda assim, a população favelada continua a crescer em um ritmo quase duas vezes superior à da média paulistana. Hoje, segundo a Sehab, há cerca de 1,3 milhão de pessoas em favelas, número que cresce 3,7% ao ano.
"Eu já morei na Arábia (favela em Parada de Taipas, zona oeste). Aí desapropriaram lá e meu marido conseguiu uns trabalhos perto da zona sul. Então, compramos esta casa", diz a vendedora de doces Maria dos Santos Penteado, que há menos de três meses mora em uma favela da Roberto Marinho. "A gente não tem folga no orçamento para alugar em outro lugar melhor, e mesmo para comprar fora de favela. Às vezes (o dinheiro), não é suficiente nem para as despesas."
Segundo moradores do Campo Belo, também cresce o número de pessoas que estão se instalando gradativamente no interior das muretas centrais de proteção da avenida, coladas ao córrego. As ocupações contrastam com o número de espigões de alto padrão que surgiram na área - nos últimos sete anos, os bairros às margens do córrego valorizaram até 80%. E o otimismo do mercado imobiliário não parece ter fim. De acordo com o Secovi (sindicato da habitação), o complexo de túnel vai garantir melhorias urbanísticas e ambientais, capazes de criar mais um eixo de desenvolvimento para a cidade.
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