Os investidores em ações aprenderam da maneira mais dura: a
partir de maio deste ano, a greve dos caminhoneiros consolidou uma percepção
difusa de que o desempenho da economia não será tão brilhante como parecia nos
primeiros meses do ano, quando o Índice Bovespa bateu seu recorde histórico a
87.200 pontos. No entanto, as cotas de fundos imobiliários, que são negociadas
ao lado das ações no pregão da B3, mostraram mais resiliência aos solavancos.
No ano, o Índice de Fundos Imobiliários (Ifix) caiu 5,2%, pouco menos do que os
6,1% de retração do Índice Bovespa.
E, considerando-se o desempenho em três anos, o ganho
permanece superior ao dos juros de mercado medidos pelo CDI (observe o gráfico
na página 60). “A greve dos caminhoneiros e a alta do dólar devido ao aumento
dos juros nos Estados Unidos e em outros países relevantes alteraram os preços
dos ativos brasileiros”, diz Gustavo Garcia, especialista de fundos
imobiliários da XP Investimentos. A volatilidade foi inferior à das ações pois
o desempenho de seus ativos, imóveis ou títulos imobiliários, é mais influenciado
pelo comportamento do setor do que pelas mudanças de expectativa dos
investidores.
Em tempos de turbulência e juros baixos, os fundos
imobiliários aparecem como uma boa alternativa para os investidores. Além de
menos voláteis do que as ações, eles contam com a isenção fiscal de seus
rendimentos. Mais do que isso, eles ainda podem se beneficiar de um momento de
recuperação do mercado. “Os fundos dedicados a lajes corporativas sofreram em
2015 e em 2016 devido à taxa de vacância elevada dos escritórios”, diz Vitor
Bidetti, CEO da gestora de recursos Brei, especializada no setor. “Essa taxa
chegou a 25% do espaço locável em 2016, atualmente está em 21% e deve continuar
caindo.”
Segundo Bidetti, com a crise, as incorporadoras deixaram de
lançar empreendimentos corporativos e se dedicaram a vender o que estava sendo
construído. Agora, diz ele, há menos edifícios vazios. Isso deve elevar os
ganhos com a locação e as cotas dos fundos dedicados a esse segmento. “O
mercado está mais aquecido, podemos notar isso devido ao lançamento de novos
fundos”, diz Bidetti. O mercado registrou seu recorde de captações em 2012, com
R$ 14 bilhões chegando ao mercado. O fundo do poço foram os R$ 2 bilhões em
2016. No ano passado foram R$ 5,8 bilhões em novos recursos e, para este ano, a
expectativa é de R$ 8 bilhões (observe o quadro ao final da reportagem). “No
início do ano, os gestores esperavam captar R$ 10 bilhões, mas a greve dos
caminhoneiros desanimou um pouco”, afirma Bidetti. Mesmo assim, ele comemora o
fato de que o resultado deve superar o do ano passado.
Um gestor que notou o interesse do mercado, mesmo em tempos
adversos, é Tiago Schietti, sócio-diretor da gestora Horus GGR. Em 2017, ele
captou cerca de R$ 250 milhões para um fundo imobiliário de renda. A estratégia
é adquirir imóveis corporativos com finalidade específica. “Nosso fundo investe
em centros de distribuição voltados para a logística e em galpões industriais”,
diz ele. O ponto em comum dos 14 imóveis adquiridos são os contratos de locação
de longo prazo, em média dez anos. Em abril, Schietti realizou nova rodada de
investimentos e captou cerca de R$ 259 milhões. Os recursos foram alocados na
aquisição de um centro já alugado para a Ambev.
Schietti diz ter encontrado vários interessados na nova
emissão. “Temos 11 mil cotistas e devemos conquistar mais”, diz ele. Seu fundo
paga uma rentabilidade fixa de R$ 0,85 por cota. Na quarta-feira 27, cada cota
valia R$ 121 na B3, o que representa um retorno de 0,69% ao mês, 8,76% ao ano
ou 134% dos juros medidos pelo CDI. Ele diz estar otimista. “Os momentos de
stress no curto prazo devem representar oportunidades de compra”, diz ele.
Rentabilidades como essas deverão manter os investidores dispostos a comprar.
Os preços dos imóveis permanecem 30% a 40% abaixo dos picos registrados em
2012. “A perspectiva de um aumento real de preços é bastante provável no médio
e no longo prazos”, diz Bidetti, da Brei. A soma da rentabilidade com as
receitas de locação e com os ganhos de capital oriundos da valorização das
cotas na Bolsa são os principais atrativos. “O investidor vai procurar
diversificação”, diz ele.
Como investir? Muitos investidores que estrearam no mercado
de fundos imobiliários em 2012 foram desagradavelmente surpreendidos em 2013. A
queda forçada dos juros no governo de Dilma Rousseff provocou perdas pesadas,
especialmente nos fundos mais alavancados. Agora, os especialistas concordam
que o cenário está menos arriscado. “Havia 40 mil cotistas desses fundos em
2012 e hoje já 110 mil”, diz Schietti. A maior popularidade reduz a hipótese de
que uma onda de vendas não encontre compradores, fazendo os preços desabar. “Se
tiver mais dinheiro, o investidor pode diversificar entre fundos que investem
em títulos imobiliários e outros que compram ativos diretamente. “Se tiver
menos recursos, o melhor é escolher um bom fundo de fundos, em que o gestor vai
realizar o trabalho de seleção”, diz ele.
Fonte: Cláudio
Gradilone, Isto É Dinheiro