Beatriz faz parte de um grupo de paulistanos que vem
crescendo de quatro anos para cá: os que abrem mão do automóvel e optam por
morar em imóveis sem garagem em bairros com boa oferta de serviços. De olho
nesse público, as incorporadoras aumentaram o número de empreendimentos do
gênero.
Segundo levantamento da Embraesp (Empresa Brasileira de
Estudos de Patrimônio), a quantidade de lançamentos de unidades sem vagas
aumentou 1 500% entre 2012 e 2017. A maior alta foi no centro. No ano passado,
dos 420 novos apartamentos na região central, 398 não tinham garagem. Cinco
anos atrás, eram 68, de um total de 200 unidades.
“A maioria dos novos imóveis ainda é de dois quartos com
garagem, mas tem aumentado a procura por apartamentos menores, de um
dormitório, ou no estilo estúdio, e sem vaga”, explica Flavio Amary, presidente
do Sindicato da Habitação (SecoviSP). “As pessoas têm buscado morar perto do
trabalho, ou então de estações de metrô e terminais de ônibus, para facilitar a
locomoção.”
O boom dos imóveis sem garagem ocorreu a partir de 2014,
quando o novo Plano Diretor passou a incentivar a construção de prédios com no
máximo uma vaga, e se intensificou em 2016, depois da sanção da lei de
zoneamento, que acabou com a obrigatoriedade de garagem para prédios
residenciais em locais onde há bom acesso a transporte público. “O fenômeno atingiu
primeiro o centro, devido à ampla gama de serviços, mas já tem se espalhado
para outras regiões, como as zonas Oeste e Leste”, avalia Cristiane Crisci,
gerente de Inteligência de Mercado do Grupo ZAP Viva Real.
Uma das principais incorporadoras do setor é a Vitacon, no
mercado há oito anos. Dos 45 empreendimentos lançados por ela até hoje (foram
sete em 2017), três não têm garagem e 42 são mistos, ou seja, dispõem de
apartamentos com e sem vagas. Todos eles possuem serviços voltados a quem não
tem automóvel. Alguns oferecem carro e moto compartilhados, à disposição do
condômino, e outros, bicicletas para empréstimo. Também há parcerias com
aplicativos de caronas solidárias. “Além da economia, a não dependência do
automóvel pode aumentar a qualidade de vida do paulistano”, acredita Alexandre
Lafer Frankel, CEO da empresa. Neste ano, a companhia deve lançar outros sete
condomínios.
A imobiliária Lopes também passou a investir nesse tipo de
imóvel. Nos últimos três anos, 50% de seus lançamentos foram sem garagem. “São
produtos com boa comercialização. Como os preços são atraentes, muita gente
compra não para morar, e sim para investir”, conta João Henrique, diretor de
atendimento da Lopes. É o caso do designer de interiores Anderson Trindade
Pereira, 41, que vive em um apartamento em Higienópolis e adquiriu no ano
passado outros dois sem garagem na região central. “É bom para morar, porque se
gasta menos, e para fazer negócios, pois a procura é grande”, conta ele.
Cada vez menos vagas
O número de lançamentos imobiliários sem garagem na capital
cresceu mais de 1000% nos últimos cinco anos
2012
Unidades lançadas: 27 769
Total sem vaga de garagem: 650
2017
Unidades lançadas: 28 433
Total sem vaga de garagem: 10 886
Aumento de 1 500%
– O centro é a região que mais concentra imóveis do gênero,
mas há empreendimentos também em bairros como Barra Funda, Butantã, Pompeia,
Vila
Olímpia, Itaquera, Pinheiros e Vila Mariana
– Um apartamento sem vaga custa até 100 000 reais a menos
– O valor do IPTU dessas unidades é entre 15% e 25% menor
Fontes: Embraesp, Magik JC e Vitacon
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