Por Jamille Niero
Uma resolução publicada
recentemente no Diário Oficial da capital paulista traz diretrizes para o
desenho universal de acessibilidade em unidades de hotéis, motéis, pousadas e
similares. A norma, que foi aprovada pela Secretaria Municipal da Pessoa com
Deficiência e Mobilidade Reduzida, visa cumprir exigências da Lei Brasileira de
Inclusão, de abrangência nacional. A resolução segue a definição de norma
técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que trata do tema,
contendo, por exemplo, o tamanho adequado para portas, corredores e passagens,
além da altura de camas, interruptores, maçanetas, entre outros.
Segundo especialistas em
hotelaria, a medida é positiva ao estimular a acessibilidade no atendimento às
pessoas com deficiência, público que soma mais de 45 milhões de brasileiros,
segundo o IBGE. Contudo, as ações nesse sentido devem ir além da exigência de
alterações no espaço físico dos estabelecimentos. Passam ainda por incentivar o
treinamento de profissionais que lidam diretamente com tais hóspedes e tornar
os espaços públicos acessíveis. O estímulo financeiro também é necessário,
ainda mais em momento de crise econômica.
É preciso garantir que as regras
sejam viáveis, aponta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de
Hotéis do Estado de São Paulo (ABIH-SP), Bruno Omori. De acordo com ele, para
que os estabelecimentos do ramo se tornem mais acessíveis, são necessárias
medidas complementares. Entre elas, incentivos fiscais - como a redução do
imposto dos materiais usados na transformação do espaço, linha de financiamento
específica para obras de adaptação e descontos no IPTU para quem implantar
medidas nesse sentido. “Tem que existir ações conjuntas entre as iniciativas
pública e privada. Precisamos considerar ainda que é um momento delicado para
os empresários, que evitam qualquer coisa que for encarecer os custos, uma vez
que a crise reduziu a ocupação dos hotéis”, explica Omori.
A ABIH-SP tem desde 2012 o Programa
de Acessibilidade e Inclusão Social, cujo objetivo é oferecer ao mercado
hoteleiro e setores ligados ao turismo informação, orientação e capacitação. O
resultado é a certificação do estabelecimento com selo em parceria com a ABNT.
Dificuldades
Para o Conselho Executivo de
Viagens e Eventos Corporativos (CEVEC) da Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), é extremamente
importante que os meios de hospedagem sejam acessíveis para pessoas com todos
os tipos de deficiências. Mas a acessibilidade deve abranger desde equipamentos
e atrativos (públicos e privados) até a infraestrutura de mobilidade urbana,
como ruas, calçadas e transporte público. “De nada adianta termos todos os
meios de hospedagem adaptados se o visitante/turista não conseguir se locomover
assim que deixar um estabelecimento”, aponta a presidente do referido Conselho,
Viviânne Martins.
A docente de Hotelaria do Senac
São Paulo, Luana Manini, observa que muitos hotéis da cidade possuem espaços e
atendimento acessíveis. A falta da acessibilidade é mais comum em
estabelecimentos como motéis. “A vida sexual de pessoas com deficiência ainda é
um tabu”, justifica.
Nos pequenos e médios
empreendimentos independentes – sejam hotéis, motéis ou pousadas – a
dificuldade está nos casos em que o dono não tem formação hoteleira. “Muitos
são criados quando o proprietário tem um imóvel disponível e aproveita o espaço
para abrir o estabelecimento, mas não conta com assessoria e planejamento
adequados”, comenta.
A acessibilidade na rede
hoteleira pode ser encarada ainda como uma oportunidade de atrair novos
clientes. Os hóspedes com deficiência podem se instalar no hotel acompanhados
de amigos ou familiares, aumentando a ocupação do estabelecimento. Por outro
lado, espaços acessíveis podem ser um diferencial para atrair empresas que
buscam locais para realizar eventos corporativos e contam com funcionários com
necessidades especiais. Há ainda a demanda dos turistas mais idosos.
Empreendimentos que se preparam para receber cães-guias conseguem ampliar o
público-alvo e hospedar também outros viajantes com animais de estimação.
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