A 27ª letra do alfabeto da língua portuguesa nasceu em São Paulo. É filha do H com o M. Leva um pouco a cara do pai e se parece outro tanto com a mãe, dependendo do ângulo.
Seu habitat natural é o letreiro de hotéis dos bairros mais centrais, onde motéis são proibidos pela lei de zoneamento. A atividade é restrita a áreas de predominância industrial ou de proteção (tipo beira de estrada), além de vias como as marginais ou a rodovia Raposo Tavares.
"É um truque comum e só paulistano. Usam uma letra indefinida, com a ponte que liga as duas pernas do H meio curvadinha, para avisar o cliente que ali ele vai achar condições parecidas com as dos motéis", diz o antropólogo Nelson Antione.
A São Paulo visitou dez estabelecimentos que ostentavam em seu letreiro um H com cara de M. Todos disseram se tratar de um H e ponto.
"Foi erro do letreiro", Wagner Souza, gerente do Gramado, em Santa Cecília, que aparece na foto acima. "Na porta mostra que é um H mesmo, você pode ver. Aqui é hotel."
"É hotel aqui. Só hotel. Você está vendo maldade", disse a gerente do Beija-Flor, na rua Rui Barbosa, na Bela Vista, que não quis ser identificada. Mas o local tem em seu cardápio de preços períodos de 24 (R$ 80), 12 (R$ 50) e duas horas (R$ 35).
Já o Foulard cobra R$ 30 por uma estada de duas horas numa ruela de Santana, zona norte. "É só para o cara que vem tirar uma soneca", garante o dono, Manuel Castro.
O Stela Novo, na rua Augusta, não se envergonha de alugar por período para outro fim. "O pessoal às vezes quer namorar um pouquinho, rapidinho", diz a atendente que pede para não ter o nome revelado.
O colunista da Folha Antonio Prata versou sobre o tema no último domingo. Não chegou a conclusão, mas confessou uma inclinação a pensar que "trata-se de um motel envergonhado". Ou pura maldade de quem vê uma letra que nem existe.
Fonte: Chicco Felitti / Folha de São Paulo
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