O que poderia parecer impossível há poucas décadas, com as tecnologias de informação e comunicação tem se configurado como parte da realidade no mundo do trabalho. O exercício da engenharia não necessariamente tem sido feito no local da obra ou num escritório de projetos, por exemplo, mas na própria casa. É o chamado home office ou tele trabalho.
Segundo Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, ainda há carência de estudos sobre as consequências dessa mudança. “Tem efeitos até que positivos, negativos talvez, que não são reconhecidos. Mas, de toda maneira, tem a possibilidade da organização, administração do tempo de maneira que interessa mais ao próprio trabalhador, embora não saibamos os reflexos na jornada. As pesquisas existentes em geral apontam, com novo sistema de remuneração ou metas, para jornadas muito maiores do que aquelas exercidas em lugares específicos.” Além disso, Pochmann adverte que não se sabe ainda os efeitos do home office na construção da sociabilidade. “Quando se sai do escritório, tem-se o tempo livre. Quando as coisas se misturam, não se sabe muito bem avaliar o impacto negativo ou positivo.” Por outro lado, para ele, esse novo cenário reforçaria a concepção de “cidades enxutas”, com toda gama de serviços próxima do local de moradia, indicando solução para o esgotamento do modelo urbano atual.
Entre maio e outubro de 2011, o Centro de Estudos de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível (Cetel) da Business School São Paulo (BSP) realizou pesquisa junto a 236 empresas de diversos segmentos e tamanhos sobre o tema. Foram 150 respostas, metade de profissionais que atuam nessa modalidade. Segundo o estudo, entre as companhias que adotam o modelo, 52% defendem sua expansão. Já entre os “trabalhadores remotos, um total de 77% tem consciência de que o trabalho a distância contribui para a redução da poluição, 61% acredita que ajuda na qualidade de vida das pessoas, além de 46% crer ser uma forma de trabalho sustentável”. Também teriam sido apontadas como positivas por eles “questões de grande interesse para as empresas, como redução do absenteísmo, com 32%; redução da supervisão presencial, 25%; retenção de talentos, 24%; dedicação do profissional, 24%; inclusão social, 24%; e aumento da produtividade, 22%”. De acordo com a BSP, por outro lado, 19% consideram que esse tipo de trabalho dificulta o controle do funcionário, 13%, que limita a vida social e 11%, que marginaliza o empregado. Alvaro Mello, coordenador do Cetel, acrescenta entre as vantagens a diminuição da necessidade de deslocamentos diários, o que “evita perda de tempo”. Às companhias, um dos benefícios seria na redução dos custos com espaço físico. Sem enxergar qualquer desvantagem com o teletrabalho, ele afirma que são necessárias “precauções” com a implantação. “É preciso treinar bem a mão de obra e verificar se o ambiente é adequado ao trabalho, desde a questão da iluminação e ruídos até equipamentos e móveis. A empresa deve se preocupar com o isolamento social, o ideal não é ficar todos os dias em casa. Tem que se avaliar também o perfil do indivíduo, tem pessoas que não se adaptam”, explica.
A voz dos profissionais
Entre os que atuam em casa, o engenheiro eletrônico Marcelo Mauro é um defensor da modalidade. Gerente da área de soluções da British Telecom Brasil, ele trabalha em regime de tele trabalho desde 2009. “Minha equipe tem cinco engenheiros e conseguimos trabalhar com a mesma funcionalidade. O método é de times virtuais. Cada um é auto gerenciável, tem que cumprir prazos e metas.” A reclamação de alguns seria o isolamento, por isso o acordo é de estar presencialmente uma a duas vezes por semana no escritório. E ressalta a necessidade de se respeitar o perfil de cada um. “Alguns não conseguem (trabalhar dessa forma).” Pessoalmente, Mauro enfatiza o ganho de tempo, sem a necessidade de deslocamento. “Às 8h30 já estou em frente ao computador e termino o expediente às 18h. Consigo, na hora do almoço, buscar meus filhos na escola.” Além disso, assegura que consegue render muito mais. Ele salienta que a empresa manteve todos os benefícios, como vale-refeição, e paga banda larga e estacionamento avulso.
Redatora técnica, Sarah Maria de Siqueira trabalhou em casa, para a IBM, entre 2008 e abril de 2013. “No meu caso, deu muito certo, não tinha que passar duas, três horas no trânsito e programava meus dias de acordo com o que precisava fazer. Aumentou minha produtividade.”
O engenheiro Olímpio de Melo Álvares Junior também defende o regime de home office. “Quando preciso me concentrar, entro num acordo para trabalhar em casa. Produzo muito mais”, ressalta. Funcionário da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ele lembra que o tema está em discussão na Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo para implantação de tele trabalho na companhia. Diretor do SEESP, Jorge Joel de Faria Souza ressalta que relatório sobre o assunto está sendo finalizado. O secretário Bruno Covas explicita: “Criamos um grupo de trabalho para buscar formas de fomentar estratégias de gestão de mobilidade via tele trabalho e tele atividades no Estado. A ideia está de acordo com as diretrizes da Política Estadual de Mudanças Climáticas e com a necessidade de alternativas estratégicas aos problemas de mobilidade e poluição previstas no Plano de Controle de Poluição Veicular. As vantagens com relação à economia, à qualidade de vida proporcionada aos tele trabalhadores, à colaboração com a mobilidade urbana, com a redução da poluição e com a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho estão sendo estudadas.”
Fonte: Soraya Misleh
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