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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Contra a crise, o alto padrão

José Auriemo Neto, da JHSF, revela como o mercado de imóveis mais caros acabou não sendo afetado pela crise

Aos poucos, o mundo vai remontando as peças no jogo da economia pós-crise. E para o Brasil, especificamente, as perspectivas são boas, visto que o País não chegou a entrar na festa da “bolha imobiliária” que atacou os países de Primeiro Mundo e fez explodir o mercado financeiro americano. Não por prudência, mas por falta de crédito fácil e de um sistema financeiro altamente regulamentado.

Há perigo de formação de uma bolha brasileira? “Difícil”, diz José Auriemo Neto, da JHSF. Se o programa de governo “Minha Casa, Minha Vida” resultar no dobro do endividamento imobiliário que o Brasil tem hoje, chegaremos a 5% do PIB. Só para lembrar: quando a crise estourou, a Espanha tinha 40% do seu PIB comprometido com o financiamento de imóveis e EUA, 70%.

Auriemo, no entanto, não navega por essas bandas. Depois de ter passado por uma fase de construção, a empresa hoje investe quase que exclusivamente em produtos de alto padrão, calçada por um IPO feito há quatro anos. Seus acionistas, aliás, nos últimos sete meses, passaram de 500 para mais de 5 mil. “Este é o tamanho do interesse por investir no setor imobiliário”, ressalta.

Aqui vão trechos da sua entrevista:

Depois da crise, o investidor ficou mais exigente, ou menos?
Eles sempre são exigentes. Hoje as características de um investimento são analisadas com um cuidado e aprofundamento muito maiores. Se um determinado perfil ou objetivo está claro, há uma pesquisa bem mais detalhada de qualidade dos investimentos. Falo aqui especificamente da área imobiliária, pois as outras não conheço.

Normalmente o investidor imobiliário pensa no longo e médio prazos. O brasileiro tem cultura para ver isso, uma coisa de tijolo, não de papel?
Cada vez mais o investidor age dessa forma, sente-se melhor se está associado a uma atividade produtiva. Ele vê a obra crescendo, as pessoas andando pelo shopping, há uma relação direta, enfim, com o que está acontecendo.

De que modo seu mercado foi afetado pela crise?
Nessas situações há sempre uma primeira reação, que é uma crise de entendimento. Esta teve uma abrangência global, não estavam definidos quais impactos viriam, no Brasil, no mundo. À medida que o pessoal do setor imobiliário foi retomando a confiança no mercado geral - financeiro - o Brasil foi se descolando da crise e o setor de alto padrão foi pelo mesmo caminho.

Tem exemplos concretos?
Desde o nosso IPO, em 2007, lançamos R$ 2,8 bilhões em nossos produtos. Vendemos até agora R$ 2,1 bilhões. Ou seja, 73% de todos os produtos lançados. E todos se valorizaram muito acima de qualquer perspectiva.

Esta valorização não é um reflexo da escassez de terrenos bons, principalmente em São Paulo e no Rio?
Em parte é, de fato. Mas também existe a vontade de se ter algo concreto nesta crise financeira. O imóvel não desaparece de um dia para outro, como acontece às vezes com as aplicações em papel.

Vocês estão concentrados em produtos de luxo. Qual é o motivo dessa opção?
Não chamo o nosso foco de luxo. Temos um segmento de residências de alto padrão, que se estende também aos prédios de escritórios e shopping centers. Quando se fala em escritório corporativo, por exemplo, luxo não se encaixa. Falamos então em alto padrão.

Por que vocês abandonaram a área da construção?
Percebemos que, se a empresa tiver foco maior na pesquisa, em produto, em desenvolvimento imobiliário, teremos uma construção com foco melhor. E por esse caminho, com o mercado de construção se desenvolvendo, você consegue hoje suporte adequado e boas parcerias com os construtores.

O que é mais difícil, lidar com cliente de alto padrão ou de padrão médio?
Lidar com qualquer tipo de cliente traz desafios. A empresa precisa estar estruturada e fazer treinamento para atender adequadamente a todos. Este é um fato fundamental - que as empresas reservem um investimento grande para treinamento de qualidade.Há diferentes nichos e as equipes precisam ser formadas, também, de modo diferente.

Esses imóveis de alto padrão aparecem cada vez mais no formato de bunkers, por causa da segurança. É uma exigência do segmento?
É difícil dizer, aí, o que é causa e o que é consequência. É um fenômeno ligado a grandes cidades. Em Nova York também ocorre coisa parecida. Mas nosso índices de violência estão melhorando, temos pesquisas em que não vemos piora. Pesquisas relativas principalmente à cidade de São Paulo.

No Rio, vocês não entraram por quê?
A gente decide atuar baseado na chance de desenvolver algo com uma qualidade que nos permita ficar à vontade. Não encontramos isso, ainda, no Rio. Terreno bem localizado, de fácil acesso...

Como funcionam as associações que vocês fizeram com marcas de alto padrão, como Daslu e Fasano?
Do Fasano, somos sócios. A Daslu é uma relação em que eles vieram ancorar o Cidade Jardim, além de um plano de ancoragem da marca em dois novos shoppings. Não é uma associação, é uma relação de empreendimento lojista.

Onde serão os dois novos shoppings com essa marca?
Ainda não temos uma definição sobre isso.

Vocês compraram a Hermès. Existe alguma outra marca na mira?
A marca tem um plano de crescimento. As vendas no Brasil estão inacreditáveis. Esses negócios, Daslu, Fasano, Hermes, foram feitos porque tinham uma grande sinergia com o nosso core business.

Fonte: Sonia Racy


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