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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Um Gerdau na hotelaria

O empresário gaúcho Carlos Gerdau firma parceria com a administradora Atlantica Hotels para lançar uma nova rede de hotéis no Brasil.

Por Rafael FREIRE

O sobrenome Gerdau, mais do que indicar a ascendência alemã, sempre esteve ligado à siderurgia e a grandes negócios. Fundado em Porto Alegre (RS), o grupo Gerdau tem presença em 14 países, com operações nas Américas, na Europa e na Ásia. Além disso, a empresa tem capital aberto nas bolsas de valores de São Paulo, Nova York e Madri, 140 mil investidores e um faturamento de R$ 35,6 bilhões. Com 110 anos, a companhia ainda é controlada pela família Gerdau Johannpeter cujo patriarca, Jorge Gerdau Johannpeter, é o atual presidente do conselho de administração. Mas há um Gerdau que dá expediente em um escritório com decoração austera de apenas 100 metros quadrados, com cerca de 30 funcionários, no bairro dos Jardins em São Paulo.


Em vez de contas de bilhões de reais, ele trabalha com investimentos na casa dos milhões. Esse empresário é o gaúcho Carlos Gerdau Johannpeter, 51 anos, primogênito de Jorge. À frente da construtora de casas populares Domus Populi, ele se diverte com a ideia de que, no mundo dos grandes negócios, tamanho não é documento. “A Gerdau é uma empresa bilionária e a Domus é apenas uma startup”, disse Gerdau à DINHEIRO. “Sou mais executivo do que empresário. Meu negócio é colocar a mão na massa.” Sempre que está em seu escritório, em São Paulo, Gerdau começa o dia de trabalho degustando uma cuia de chimarrão. Foi assim na manhã em que recebeu a DINHEIRO, no fim do ano passado.

Entre um gole e outro do mate, Gerdau falou com exclusividade sobre sua nova tacada empresarial que tem como foco o setor hoteleiro. Ele ingressa nessa área em parceria com a Atlantica Hotels, maior administradora de hotéis multimarcas de capital privado da América Latina, com faturamento de R$ 500 milhões. Gerdau, que terá uma participação minoritária no empreendimento, não fará aporte financeiro. Para ser sócio, ele vai construir os quatro hotéis da recém-criada rede innStile por meio da Domus Populi. O investimento total é estimado em R$ 100 milhões. Além das duas companhias, haverá aporte de um grupo de investidores. “É um projeto que une o know-how que a Domus tem em engenharia com a expertise da Atlantica no mercado hoteleiro brasileiro ”, afirma Gerdau.

A nova bandeira será voltada ao turismo de negócios e as primeiras quatro unidades serão erguidas em Campinas, São Bernardo do Campo, Sorocaba e Valinhos, todas em São Paulo. O empreendimento é visto por Gerdau como a chance de mostrar que a sua Domus Populi, palavra latina que significa casa popular, pode fazer a diferença quando se trata de obras de grande porte. A companhia foi fundada em 2003, um ano após ele deixar a empresa da família, na qual era diretor-executivo de operações e principal candidato a assumir a presidência do grupo Gerdau, no lugar de seu pai. Desde então a Domus Populi já entregou duas mil casas. Esse baixo número deve-se ao fato de que a companhia teve sua operação interrompida entre 2005 e 2009.

A Domus foi retomada há dois anos, com a compra da Brasitherm, cujo valor Gerdau não revela. Com isso, a companhia passou a ter exclusividade na utilização de um método construtivo totalmente industrializado, que utiliza painéis pré-fabricados de placas duplas de concreto montadas por guindastes ou gruas no local da obra. “A viabilidade da habitação popular passa por juros baixos”, afirma Gerdau. “Com o programa Minha Casa Minha Vida, agora é possível trabalhar.” A Domus Populi conta com uma fábrica em Várzea Paulista, no interior de São Paulo, onde é capaz de produzir 600 casas por ano. A meta é ampliar essa capacidade para 1,5 mil, após um investimento de R$ 5 milhões. Os clientes da empresa, que não divulga o faturamento, são incorporadores que investem em condomínios residenciais.

Apesar de não ser mais barato do que a construção convencional, o método Brasitherm reduz em até 50% o tempo da obra, segundo Gerdau. Por conta disso, ele espera concluir os hotéis da rede innStile em até dois anos. “A agilidade na construção acaba tornando o negócio mais rentável, pois o retorno financeiro pode ser antecipado”, afirma Paul Sistare, CEO da Atlantica Hotels. “É uma excelente relação custo-benefício para nossos investidores.” A pressa tem sua razão de ser. O crescimento da economia ampliou a importância relativa do Brasil no cenário global, ampliando o turismo de negócios e de lazer. Isso ajuda também a explicar por que o setor vive um boom em matéria de investimentos. Segundo a consultoria BSH International, deverão ser aplicados R$ 7,3 bilhões no setor até 2014.

“O maior poder aquisitivo da classe média e a descentralização da economia acaba movimentando mais o setor e abrindo novas regiões potenciais”, afirma Ricardo Mader, vice-presidente executivo da consultoria britânica Jones Lang LaSalle Hotels no Brasil. Outro fator que torna o mercado brasileiro ainda mais interessante é a rentabilidade dos hotéis. De acordo com dados de um estudo sobre o desempenho da hotelaria mundial, realizado pela consultoria britânica STR Global em outubro de 2011, o faturamento por apartamento no Brasil (em média R$ 180) cresceu 29,4%, comparado ao mesmo mês de 2010. Na América do Sul, o aumento foi de 10,6%. Nos países da Ásia, 12,4%, e, na China, 8,4%. Só a Índia teve queda: 2,3%.

Para se diferenciar da concorrência, Gerdau e a Atlantica Hotels pretendem posicionar a bandeira innStile como um empreendimento com ar futurista, preço competitivo e apelo para o design bem ao gosto dos jovens executivos. Para isso, a decoração será formada com cores vibrantes, paredes de concreto aparente e luzes embutidas em alguns móveis. “Queremos refletir o estilo moderno e pró-ativo dos hóspedes”, diz Gerdau. O mesmo se aplica às áreas de convivência. Na visão dos sócios, ela deverá ser como um ponto de encontro de amigos, e não apenas uma sala para o entra e sai dos hóspedes. A tarifa dos hotéis da nova rede custará até R$ 220. O empresário desconversa quando é questionado sobre os ganhos que espera ter com a nova empreitada.

“Uma das maiores lições que tive na Gerdau foi de mirar um objetivo concreto e trabalhar para alcançá-lo”, diz Gerdau. Graduado em direito e com especialização em negócios na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o herdeiro do grupo Gerdau trabalhou na empresa da família desde a infância até julho de 2002, quando pediu demissão do cargo. “O desejo de abrir minha própria empresa começou dois anos antes de eu sair”, afirma. No ano seguinte, ele fundou a Domus Populi. Ainda como executivo da Gerdau, o empresário chegou a trabalhar no lançamento de uma estrutura metálica pronta para casas populares, mas o projeto, denominado Casa Fácil, não foi para a frente. “Esse produto me permitiu ver uma grande oportunidade no mercado de habitação, que era a necessidade de processos mais eficientes de industrialização.”

Investimento bilionário

Mesmo depois de 14 anos morando no Brasil, o americano Paul Sistare ainda fala português com bastante sotaque. Fundador e CEO da administradora de hotéis Atlantica Hotels International, Sistare se diz um profundo admirador do País. Quando não está viajando a trabalho, gosta de conhecer novas regiões brasileiras. “Conheço mais o Brasil do que muitos brasileiros”, diz. O empresário acaba usando o hobby de viajar para descobrir regiões com potencial para investir. A fórmula tem dado resultados. Hoje, a Atlantica Hotels International possui 79 unidades com 11 bandeiras, que vão desde o segmento de luxo até o popular.

O faturamento chega a R$ 500 milhões por ano. Sistare sempre soube cultivar uma extensa rede de relacionamentos, que lhe permitiu atrair investidores com recursos e gestores qualificados, como Gregory Ryan, responsável pela implantação do McDonald's no Brasil e que atua como presidente do conselho de administração da companhia. Na lista de oito mil investidores de sua empresa consta Nicholas Brady, ex-secretário do Tesouro dos EUA. Nos próximos anos, Sistare terá, mais uma vez, a oportunidade de usar seu conhecimento sobre o Brasil para diversificar a área de ação e o portfólio da rede Atlântica.

É que ele já tem garantido R$ 1 bilhão para erguer 21 hotéis pelo País até 2025. “É o maior ciclo de investimento da história da Atlantica”, diz Sistare. Do total, dez unidades serão instaladas em cidades nas quais a rede ainda não operava. A conta inclui os quatro empreendimentos com a nova bandeira innStile, cujo sócio é Carlos Gerdau Johannpeter, herdeiro do grupo Gerdau. “As grandes capitais já são bem servidas. Nosso foco agora são as cidades médias que já estão no radar das empresas e que não têm boas acomodações para receber quem viaja a trabalho”, afirma Sistare.

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