Um dos princípios consideravelmente básicos e popularmente conhecidos da economia diz que, para fazer um bom negócio, é fundamental aproveitar os momentos de baixa para comprar e os momentos de alta para vender.
Comprar barato e vender caro é sinônimo de lucro e inteligência e é um conceito que está arraigado em nossa cultura, apesar de não termos uma educação financeira efetiva nas escolas. É um conhecimento quase empírico, que passa de geração para geração.
Mas, quando pensamos com bastante atenção e racionalidade na atual situação do mercado imobiliário brasileiro, podemos concluir que esse princípio tem sido levado a sério, como nunca, por quem tem imóvel para vender. Quem está decidido a comprar um imóvel (justamente agora, com os preços no topo!) está cometendo um grande equívoco financeiro e, certamente, ignorando a regra devidamente martelada na fala popular.
Pessoas compram e continuam comprando imóveis, sem grandes reflexões, sem paciência e se submetendo a preços exorbitantes e surreais. Onde querem chegar?
Na ânsia de ter a sonhada casa própria, de se livrar do aluguel ou até de fazer um bom investimento, o consumidor brasileiro perdeu a mão e compra com uma ideia fixa de que seu imóvel continuará se valorizando significativamente com o tempo. Não irá!
Pode até parecer pessimista, mas a própria história cansa de nos apontar exemplos de bolhas e de como não ser um colaborador (e, posteriormente, vítima) delas. Quem não se lembra da crise imobiliária norte-americana em 2007 e 2008, que fez com que a economia mundial balançasse e cuja recuperação não se deu por completa até hoje?
Outro clássico do mercado especulativo ocorreu em 1634, conforme relatos da chamada "mania das tulipas" na Holanda. À época, o país recebia forasteiros que aqueceram o mercado de tulipas de forma avassaladora. Apesar de o salário médio chegar a, no máximo, 400 florins por ano, um bulbo podia ser vendido a seis mil florins! Todos queriam vender tulipas. No entanto, pasmem, apenas três anos depois o mercado destas flores quebrou, após um pânico generalizado, cujas causas são desconhecidas, dos consumidores. Um crescimento tão frágil quanto o próprio produto comercializado.
A bolha como ela é
Tanto no caso das tulipas holandesas como nos exemplos dos mercados imobiliários americano e brasileiro, os pés dos consumidores se distanciaram da realidade. Se a inflação alcança níveis inadmissíveis para a população, a política monetária inverte-se e investimentos de longo prazo desmoronam, especialmente os do setor imobiliário.
O ciclo começa sempre com juros baixos em excesso, construções em abundância, empréstimos, crescente demanda por moradias, explosão nos preços e, no fim, um mercado especulativo.
Investidores redescobrem um mecanismo fácil para ganhar rios de dinheiro: comprar imóveis na planta e revender. Momento mágico, porém absolutamente efêmero, que dura apenas até o dia em que os juros sobem, os lucros dos empreendedores somem, as construtoras sofrem o golpe, os preços despencam, os especuladores amargam a baixa e a sociedade toda acaba sentindo os reflexos da crise econômica instalada.
Quem cogita comprar um imóvel deve parar e pensar seriamente que imóveis hoje não são um bom investimento e que não existe eficiência financeira, lucros garantidos, ao se adquirir um bem do mercado imobiliário hoje. Aplique o dinheiro em mecanismos mais rentáveis e de maior liquidez. Poupe. Tenha disciplina. Mantenha a paciência. Conforme a sabedoria popular: quem não espera, come cru.
Fonte: Samy Dana
Mestre em economia, doutor em administração e PhD in business, é professor de carreira na Escola de Economia de São Paulo, fundador e coordenador do Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV-SP - GV Cult. Fan Page: facebook.com/CaroDinheiro