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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PPP Casa Paulista e desapropriações: levantamento mostra que poucos imóveis estão desocupados

Por Raquel Rolnik: Urbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Em agosto comentei sobre o decreto estadual nº 59.273/2013, que prevê a desapropriação de 950 imóveis no centro de São Paulo com o objetivo de promover habitação de interesse social. O decreto faz parte da estratégia de implementação da Parceria Público-Privada da Casa Paulista, que pretende produzir habitação no centro “para quem trabalha ali”, utilizando imóveis vazios e subutilizados da região para transformá-los em moradia.
Sem notificação nem qualquer tipo de informação oficial, muitos moradores tomaram conhecimento da proposta por advogados que viram a publicação do decreto no Diário Oficial do Estado. Vendo que suas residências e/ou estabelecimentos comerciais estavam marcados no decreto para serem desapropriados, eles se organizaram para pressionar a assembleia legislativa, a fim de que os deputados interviessem junto ao governo do Estado. O mandato do deputado Carlos Giannazi realizou uma audiência pública no dia 16 de agosto para discutir o assunto. Além disso, foram realizadas reuniões entre moradores, secretaria estadual de habitação e defensoria pública.
Organizados numa comissão, os próprios moradores fizeram um levantamento dos imóveis e concluíram que, dos 950 listados no decreto, apenas 85 estão vazios ou aparentemente abandonados, 55 são terrenos e 47 não foram encontrados ou não foi possível determinar seu uso. Todos os demais estariam ocupados por residências próprias ou alugadas formalmente, comércios, serviços, indústrias, instituições religiosas, escolas, estacionamentos, além de cortiços e ocupações por parte de movimentos de moradia.
Aliás, a Claudia, que participou do levantamento, comentou aqui no blog que, na realidade, o total de imóveis seria superior a 950. “Na verdade são bem mais, pois vários imóveis têm mais do que um número de rua, mas estão sob o mesmo IPTU. Existem vários prédios de apartamentos e dois prédios comerciais, 5 escolas, uma igreja Católica centenária, 3 igrejas Evangélicas, 3 centros de reciclagem…. e apenas 140 imóveis vazios! Isso dá menos do que 15% dos imóveis!”, disse.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

'Uma vida simples é mais feliz', diz arquiteto de apartamento de 19m²

"Como planejar sua vida para incluir mais dinheiro, saúde e felicidade com menos coisas, espaço e energia." É com essa frase que a empresa americana LifeEdited (ou "vida editada", em português) resume o seu trabalho. A empresa está por trás do desenvolvimento de um projeto para o menor apartamento à venda no Brasil, que tem 19 m² de área.
 
A LifeEdited foi criada pelo arquiteto e designer canadense Graham Hill há pouco mais de um ano. Depois de criar duas empresas com foco na internet e vender cada uma por US$ 10 milhões, ele decidiu tocar um projeto relacionado ao seu estilo de vida. Hill é um ambientalista.
 
 
"Por um tempo, morei em várias cidades, sempre em locais pequenos e sempre levando minhas coisas em apenas duas malas. Isso me fez pensar sobre quanto de espaço e coisas eu realmente precisava. Percebi que uma vida simples é mais feliz", afirma.
 
O primeiro projeto da LifeEdited foi o apartamento para onde o próprio Hill se mudou há um ano, em Nova York. Ele desenhou, para o imóvel de 39m², diversas soluções para aproveitamento de espaço. Durante o dia, ele pode montar uma mesa e receber até 12 pessoas para almoçar. À noite, a mesa é escondida e dá lugar a uma cama de casal.
 
O canadense desenvolveu um projeto semelhante para a brasileira Vitacon. Ele veio a São Paulo nesta semana mostrar suas ideias para os apartamentos de 19m² do VN Quatá, empreendimento localizado na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, que foi desenvolvido pelo escritório Basiches Arquitetos e lançado em outubro. A arquitetura interna do imóvel imaginado por Hill para os brasileiros tem paredes que mudam de lugar e móveis adaptados.
 
Em entrevista ao UOL, o arquiteto explicou o que o levou a adotar um estilo de vida "editada" e por que acredita que essa será a tendência do futuro quando se fala em moradias. Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista.
 
UOL -  O principal produto de sua empresa é seu próprio apartamento, que o senhor usa para mostrar que é possível viver bem em espaços pequenos. Quando o senhor começou a pensar nisso como parte de um estilo de vida?
 
Graham Hill - Sempre morei em casas grandes. Minha casa em Seattle tinha 300m². Mas sou um ambientalista e penso muito sobre esse assunto. Quando comecei o TreeHugger [site criado por ele com informações sobre sustentabilidade], estava namorando uma espanhola e morei com ela em Barcelona em um local muito pequeno. Depois morei em Bancoc [Tailândia] por cinco meses, em Buenos Aires [Argentina] por três meses, sempre em locais pequenos. E sempre com apenas duas malas. Material de trabalho, roupas e tudo o que eu tinha ficavam em duas malas. E nós tínhamos uma vida muito boa.
 
Isso me fez pensar sobre quanto de espaço e de coisas eu precisava. Percebi que a vida tem mais a ver com experiências, flexibilidade e tempo. Quando o lugar em que você mora é menor, você usa menos o aquecedor, tem menos espaço para limpar, gasta menos. Num projeto como a da Vitacon, por exemplo, as pessoas podem gastar menos dinheiro e morar de um jeito legal, perto do centro, sem precisar se locomover pela cidade. Você economiza recursos do meio ambiente, tempo e dinheiro, porque não precisa gastar com carro e gasolina.
 
Acredito que uma vida simples é mais feliz. Posso ter coisas muito boas, que são mais caras, mas elas duram mais tempo e por isso não preciso ter grandes quantidades. Tenho menos coisas para limpar e menos coisas com as quais me preocupar. Minha vida é mais simples.
 
O preço dos apartamentos menores, comparando com os maiores, ainda é proporcionalmente maior. Além disso, para ter apartamentos menores, é preciso ter móveis adaptados. Isso não torna esse estilo de vida mais caro, no fim das contas?
 
Um apartamento tem basicamente três partes: banheiro, cozinha e um espaço aberto [que inclui sala e quartos]. O custo do espaço aberto é bem menor do que o do banheiro e da cozinha. Mesmo que você encolha o espaço aberto, ainda terá de ter banheiro e cozinha, por isso o custo por metro quadrado dos imóveis menores é mais alto. Sobre os móveis, ainda é muito cedo. O volume dos móveis adaptados para espaços menores não é grande, então os preços são um pouco altos ainda.
 
Mas a maneira certa de olhar para isso é pelo custo absoluto. Se você está vivendo num apartamento de dois quartos e não precisa dos dois quartos, está desperdiçando dinheiro.
 
Mas o senhor acha que as pessoas de fato pensam assim? Se eu tivesse dinheiro para comprar um espaço maior, por que não compraria?
 
Claro, muita gente não pensa assim. O conceito sempre foi "quanto maior, melhor". Nos Estados Unidos, as famílias estão menores e estão morando em casas três vezes maiores do que nos anos 1950. Mas os níveis de felicidade são os mesmos. Então acho que basicamente confundimos felicidade com ter coisas.
 
Viver em locais menores será uma das saídas para as grandes cidades, e estamos aprendendo a fazer móveis e layouts melhores para esses espaços. Um das razões é a preservação do meio ambiente. Todas as cidades têm objetivos nesse sentido.
 
Além disso, se você escolhe, por exemplo, viver no VN Quatá, você tem menos espaço, mas não se locomove, então sua qualidade de vida é totalmente diferente. Às vezes temos uma sala de jantar e convidamos pessoas para jantar só uma vez por ano. Temos um quarto extra, e esse quarto é usado no máximo 20% do tempo. Gastamos dinheiro com esses espaços que estão vazios na maior parte do tempo.
 
Além do seu próprio apartamento e do VN Quatá, aqui no Brasil, quais são os outros projetos da LifeEdited?
 
Somos uma empresa nova, mas temos alguns projetos em desenvolvimento. Um deles é no Brooklin, em Nova York. Estou fazendo também outro protótipo no meu prédio, mais para experimentação. E estamos trabalhando com Tony Hsieh [empresário americano que é dono da loja virtual Zappos], que está interessado em testar um projeto de pequenas moradias em Las Vegas. Lá, estamos fazendo quatro unidades cerca de 18m² a 27m² e vamos oferecer estadas por uma noite e uma semana, para ver se as pessoas de Las Vegas gostam da ideia.
 
O senhor já teve e vendeu duas outras empresas por US$ 10 milhões cada uma. Vivendo de uma forma tão simples, o que faz com seu dinheiro?
 
Para mim o que importa é trabalhar com projetos que podem mudar o mundo. Ter dinheiro permite que eu faça isso, não preciso achar investidores, não tenho de me preocupar. O dinheiro me dá liberdade. Poderia gastar muito dinheiro em várias coisas, ter carros da moda, e casas da moda, mas não teria liberdade.